02 outubro 2006

MOSTRA CINEMAES

Apresentação:
O Museu de Arte do Espírito Santo – MAES – e o Núcleo de Estudos Indiciários – NEI organizam a mostra CINEMAES entre os meses de outubro e dezembro de 2006. No total de 17 (dezessete) filmes em diferentes áreas temáticas, a saber: “Diásporas”; “Identidade, Pessoa, Destino”; “Autoritarismo e Sociedades em Controle”; e “Contemporaneidade”.
O cinema, como a literatura, permite a abertura de uma janela interpretativa entre presente e passado, como também uma ponte entre culturas distantes temporal e espacialmente. Tais janelas devem ser observadas com cautela, pois ocorre que elas também funcionam como um filtro para uma realidade que, muitas vezes, nos é estranha. Neste sentido, os filmes dessa mostra trabalham a tensão que cerca nossas sociedades, caracterizadas por extremos de incertezas quanto ao futuro, na mesma medida em relação ao outro. Os conflitos são mostrados na tela, sejam eles entre indivíduos ou culturas, apontam para as dificuldades que envolvem o ser humano na pós-modernidade, empurrando-o para as distopias. Este momento, visto como altamente fragmentário e, ainda mais preocupante, esvaziado de referências, nas quais os protagonistas conseguem construir uma base, minimamente segura, nesse seu relacionar-se com o mundo. Tal dificuldade se traduz naquilo que Slavoj Žižek definiu como “sentimento de desnorteamento”, onde as pessoas, por ingressarem num mundo sem referências, como dito acima, e sem utopias, passam a perceber seu lugar de forma cínica.
Alguns dos filmes traduzem essa angústia, como nos exemplos de “O Ovo da Serpente”, de Ingmar Bergman e “Abril Despedaçado”, de Walter Salles”. Outros, porém, vislumbram uma outra possibilidade, como o francês “Amizade sem Fronteiras”, de François Dupeyeron. Aqui se apresentam características distintas para filmes de origens também distintas. Em muitos filmes norte-americanos, vários deles presentes na programação, o tom apocalíptico está sempre presente e a possibilidade de modificar o futuro, a partir das referências e tendências atuais, torna-se difícil ou praticamente impossível. Visões de futuro como aquelas que são encontradas em “1984”, de Michael Radford, “Farhenheit 451”, de François Truffaut. É o embate entre a pós-modernidade e a modernidade. Mesmo filmes que apostam em propostas de recuperar o passado, o fazem com a clara intenção de projetar nosso presente naquilo que o filme pensou representar, tanto o passado como o presente. Este corte significa que vivemos um eterno presente e que o passado é uma projeção de nossos pensamentos.
A partir da explicação das áreas temáticas e dos filmes que as compõem, é possível perceber algumas situações, aqui expostas de forma sintética. O mal-estar identitário em meio à culturas estranhas; sociedades que produzem mecanismos de controle cada vez mais abrangentes dos quais ela se torna prisioneira; a imigração e a migração vistas como motores de conflitos étnico-culturais; e o futuro caracterizado pela desesperança, resultado do domínio do homem pela máquina em acordo com as principais teorias presentes na Escola de Frankfurt.
A idéia central deste projeto é estabelecer esse diálogo entre o cinema “a arte que manipula a ilusão para criar o senso de realidade”, e o método indiciário, que permite captar e capturar as pistas que são “dadas” ao longo da obra, e que resultam na montagem do “quebra-cabeças”, que é o cinema, mas que também podem ser outras formas de arte, e de outras áreas do conhecimento humano.
Objetivos:
Abrir espaço para a discussão plural, no universo acadêmico, de temas contemporâneos a partir do cinema; Discutir a linguagem virtual como um indício da cultura pop a partir do paradigma indiciário; Provocar o diálogo entre as ciências humanas e áreas afins, acerca do imaginário social presente no cinema.
Metodologia:
O projeto - CINEMAES - será realizado às quartas-feiras dos meses de agosto, setembro, outubro e novembro, no horário das 18:00h às 22:00h. As mesas serão compostas por pesquisadores associados (membros do NEI) e convidados. Os filmes serão exibidos no auditório do Museu de Arte do Espírito Santo – MAES. Discussão sobre as obras apresentadas e suas ligações com os temas sociais contemporâneos.
Outubro 2006 - Diásporas
1) (04/10) Passaporte Húngaro – BRA, 2003 (71’) Dir.: Sandra Kogut.
Mesa: Márcia Barros F. Rodrigues (Ciências Sociais UFES), Marcos A. de Almeida Silva (Estudante de Graduação de Filosofia) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
2) (11/10) Antes da Chuva (Before the Rain) FRA, MAC, GBR, 1994 (113’) Dir.: Milcho Manchevski.
Mesa: Mauro Petersem Domingues (Ciências Sociais UFES), Fernando César Ribeiro Rosendo (Especialista em História Social do Brasil UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
3) (18/10) Amizade sem Fronteiras (Mounsier Ibrahim et les Fleurs du Coran) – FRA, 2003 (94’) Dir.: François Dupeyeron.
Mesa: Márcia Barros F. Rodrigues (Ciências Sociais UFES), Matusalém Dias de M. S. Florindo (Estudante de Graduação Ciências Sociais) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
4) (25/10) Ódio (La Haine) – FRA, 1995 (96’) Dir.: Mathieu Kassovit.
Mesa: Mauro Petersem Domingues (Ciências Sociais UFES), Sandro José da Silva (Ciências Sociais UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
Novembro 2006 - Identidade, Pessoa e Destino
1) (01/11) Grande Sertão – BRA, 1965 (92’) Dir.: Roberto Farias.
Mesa: Sandro José da Silva (Ciências Sociais UFES), Alexandre Curtis (Comunicação Social UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
2) (08/11) Língua – BRA, POR, 2004 (105’) Dir.: Victor Lopes.
Mesa: Celeste Ciccarone (Ciências Sociais UFES), Donato de Oliveira (Filosofia UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
3) (22/11) Iracema: Uma Transa Amazônica – BRA, 1976 (91’) Dir.: Jorge Bodanzky e Orlando Senna.
Mesa: Sandro José da Silva (Ciências Sociais UFES), Cleber Carminati (Comunicação Social UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
4) (29/11) Abril Despedaçado – BRA, 2001 (105’) Dir.: Walter Salles.
Mesa: Celeste Ciccarone (Ciências Sociais UFES), Donato de Oliveira (Filosofia UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
Dezembro 2006 - Autoritarismo e Sociedades em Controle
1) (06/12) O Ovo da Serpente (The Serpent’s Egg) – EUA, 1977 (119’) Dir.: Ingmar Bergman.
Mesa: Mauro Petersem Domingues (Ciências Sociais UFES) Fernando César (Especialista em História Social UFES) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
2) (13/12) Triunfo da Vontade (Triumph des Willens) GER, 1935 (114’) Dir.: Leni Riefenstahl.
Mesa: Francisco Albernaz (Ciências Sociais UFES), Marcos A. de Almeida Silva (Estudante de Graduação de Filosofia) mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
3) (20/12) Farhenheit 451 (Farhenheit 451) – GBR, 1966 (111’) Dir.: François Truffaut.
Mesa: Matusalém Dias de M. S. Florindo (Estudante de Graduação Ciências Sociais), - mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
4) (27/12) 1984 (Nineteen Eighty-Four) – GBR, 1984 (113’) Dir.: Michael Radford. Mesa: Cleber Carminati (Comunicação Social UFES), Déborah Dishka (, mediador: Luiz Antonio Gomes Pinto (Mestre em História UFES).
A distribuição dos debatedores cumpriu um critério técnico e de afetividade dos mesmos com os filmes pertencentes à mostra. Todos os debatedores comentaram dois filmes cada um. As únicas exceções feitas – Cláudio Márcio Coelho, Márcia Barros Rodrigues e Sandro José – são justificadas pelo fato de que Cláudio coordena uma linha de pesquisa intitulada: “Cinema e Sociedade”, cuja área de interesse são as sociedades contemporâneas. A Márcia Barros como coordenadora do Núcleo de Estudos Indiciários. E Sandro José por ter selecionado os filmes da área temática: “Identidade, Pessoa, Destino”, visto que os filmes têm expressivo conteúdo antropológico.

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