02 outubro 2007

Comparação de negros com imigrantes é "ingrata", diz representante dos quilombolas.



Spensy Pimentel*
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas Rurais Negras (Conaq), Ronaldo dos Santos considera "ingrata" a comparação proposta pelo deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) entre a condição dos imigrantes italianos trazidos ao Brasil desde o século 19 e a dos negros que trabalharam como escravos durante a colonização.
Para Colatto, autor de uma proposta que anula o decreto presidencial sobre a titulação de terras quilombolas , a "dívida histórica" do Brasil não é só com os negros, mas também com grupos como o dos descendentes de imigrantes italianos. "Não se compara. Dizer que eles têm direitos, todos têm direitos. Agora, comparar a questão do afrodescendente e do indígena no Brasil com qualquer outro povo é uma comparação ingrata", diz Santos.
Ele completa: "Os imigrantes em território brasileiro foram acolhidos pelo Estado, ainda que a gente saiba que não foi nas melhores condições. Já o negro no Brasil foi um povo seqüestrado de uma terra-mãe trazido para a construção de um país onde, por 350 anos, foi escravo, em toda aquela condição que a gente sabe que foi a escravidão, e depois com a Lei Áurea foi jogado ao nada".
"A população quilombola nada mais é do que esse povo, seqüestrado e escravizado, que depois perdeu a serventia. Inclusive, os imigrantes, parte deles substituiu a mão-de-obra que era até então escrava", completa.
Santos acredita que a questão quilombola se diferencia sobretudo por se tratar da "reparação" de uma situação em que, durante séculos, houve negação de direitos: "Quando a gente fala da questão do afrodescendente e da população indígena, estamos falando de uma reparação histórica de uma condição social que o Estado brasileiro impôs a esses dois grupos".

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