13 maio 2008

Quando mais é menos

Mais asfalto menos praia, mais eucalipto menos Mata Atlântica, mais condomínio menos vizinho, mais porto menos mangue, mais minério menos ar puro, mais carro menos UFES, Mais mortos menos segurança. Mais privado menos público.
Em ação, o Espírito Santo vem nos acostumando com este jogo de perdas disfarçadas de ganhos. O Paraíso está de volta só que agora o “bolo” não está disfarçado, como antes, e a única coisa que está sendo cortada é a vida dos jovens pretos na periferia. O prefeito João Coser (PT) saiu na frente e não poderia escolher melhor data para lançar sua versão armada de guarda municipal. O 13 de maio, como alguns já esqueceram é a data em que a princesa Isabel assinou a lei Áurea, cujo artigo único, anistiava o Estado brasileiro de mais de 350 anos de escravidão humana. Esta anistia perversa ainda não foi avaliada, como indica a "política pública" de João Coser.
Comemorando, o site da PMV diz que “ao todo, serão 100 revólveres calibre 38 para os agentes e dez pistolas 380 para os supervisores da guarda, que são sargentos da Polícia Militar”. No jogo do mais e menos, o prefeito dispara “é importante frisar neste momento que a segurança não é alcançada com armas. Para redução da violência é necessário ofertar escolas, oportunidade de emprego, saúde, lazer e cultura". Não entendi.
Enquanto isso os outros armados (civis e militares) não disfarçam o descontentamento com a concorrência e afirmam que a guarda não está preparada, ninguém está preparado. “Uma arma é para ser usada pela Militar e pela Civil” dispara uma policial civil citando a Constituição. "Se nós matamos, eles vão matar também...quem vai morrer?" argumenta outra. Eu não sei, mas as estatísticas mostram que será mais provável um preto jovem na periferia.
O superintendente da Polícia Federal do Espírito Santo, Geraldo Guimarães, destacou a rigidez na concessão das armas: "Não será aberta nenhuma exceção. Tudo o que se exige de um cidadão comum para o porte da arma de fogo será exigido também do guarda municipal. Isso é muito importante, porque a população pode ter certeza que terá na rua um profissional qualificado usando a arma”. É isso aí! Mas, diz ele, caso haja alguma eventualidade que coloque em risco a vida de terceiros, a posse da arma poderá ser cancelada. Não entendi. “Eventualidade”?
O prefeito aposta na militarização do discurso da cidadania e joga a população na jaula dos leões. Segundo outra fonte “uma das vitórias obtidas pelas lideranças comunitárias, por exemplo, é a formação de um Conselho Municipal de Segurança Pública. O conselho terá a participação de membros dos atuais Conselhos Regionais Interativos de Segurança - os antigos Conselhos Regionais da Prefeitura, conhecidos como Conres, estruturados em 1998.”
A sedição militar/cidadã abrange também um discurso colonialista: o geoprocessamento. Tudo que geoprocessado nos deixa mais modernos. Olhar de cima e não de baixo é sempre mais seguro. “O que mais chamou atenção na solenidade de lançamento do Vitória da Paz foi o Sistema de Informação em Geoprocessamento de Mortalidade por Causas Externas (Sigmor). O programa vai mapear a violência no município através da estatística ... Dados com informações sobre idade, sexo, região, entre outros, serão usados e articulados num mapa da violência...Terminadas todas as fases, estará pronto o mapa dos bairros com o maior índice de violência, o maior índice de homicídios, se o popular morre no próprio bairro, se morre perto de casa, a faixa etária dos mortos em Vitória e até as principais causas.” Só faltou falar que o Mapa vai ser distribuído nas escola.
Entre mapas, testes psicológicos dos policiais e promessas da prefeitura, o fato é que a população vai ler o armamento da guarda como uma forma de violência contra si. Onde deveria haver mais educação e oportunidades o estado de Exceção avança segmentando a população e garantindo que os impostos da classe mais alta seja gasto apenas com ela.
Sinceramente, nós pretos esperávamos mais políticas públicas e menos armas. Esta cota não nos diz respeito. Queremos outras formas de tratamento ai invés dos 680 mortos entre janeiro e abril de 2008 no Espírito Santo. Nesta conta, não há dúvida: mais armas representam mais mortos.

Um comentário:

Ler o Mundo História disse...

Opa!
Também gostei bastante desta paragem.
bem-vindo!
Abraços
Frô