20 janeiro 2011

Quarentena e poder

A instituição da Quarentena em 2004 pode ser uma lição de democracia ao executivo esta-dual capixaba. O texto aprovado para o ministério da justiça argu-menta que ela garante a democracia “...porque o conhecimento das práticas jurídicas e das autoridades dos órgãos judicantes, por parte do egresso da magistratura ou do Ministério Público local, poderia configurar vantagem ou privilégio em relação aos demais operadores do direito...”
No executivo isto fica fácil de com-preender. Muitos apoiadores fi-nanceiros e ideológicos das cam-panhas terminaram ocupando car-gos no primeiro escalão e atuando em cenários estratégicos e em es-paços mais intersticiais da gover-nança como a Secretaria de Gover-no que é ocupada por um lobista das empresas.
Embora eles considerem esta prá-tica natural, ela traz embaraços à coisa pública, uma vez que o lote-amento dos cargos atende tão so-mente a reprodução das relações de poder dos grupos econômicos no que tem sido um desastre histórico para o meio ambiente e os Direitos Humanos.
O lema “casa arrumada” é revelador desta situação, pois trata a coisa pública como uma casa. Casa de quem? Para quem? O velho tema do espaço público sob domínio das organizações privadas parece a única direção do atual governo. Além da casa arrumada a análise mais interessante neste momento é que este governo tem o mesmo DNA do anterior. Em termos sim-bólicos é ainda mais instigante esta imagem, uma vez que, no nível biológico de uma verdade última da natureza, o plano político estaria fadado ao controle dos mesmos grupos, a despeito do voto do elei-tor.
Culturalmente, a endogamia é um mecanismo que as sociedades hu-manas desenvolveram para garan-tir a manutenção da vida social. A endogamia política capixaba con-segue evitar estas analogias e recria ambientes corporativos como se fosse uma grande qualidade do exe-cutivo. A quarentena, usada como recurso para evitar a contaminação dos corpos saudáveis por aqueles infectados, é recurso importante para evitar que governantes ocupem cargos privados em em-presas e vice versa.
No caso capixaba esta prática con-tinua sendo uma espécie de virtude corporativa, alicerçando carreiras políticas anônimas e ampliando a atuação empresarial predadora.
A linguagem profilática se justifica. Se a circulação no âmbito do poder é igualmente algo desejável para nos livrar dos vícios dos governan-tes, ela tem representado a segu-rança para corporações e os ócios da política.

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