15 fevereiro 2011

Sem água não tem quilombo


Existem muitas maneiras de exterminar a cultura negra quilombola. A mais eficiente no estado do Espírito Santo é retirar-lhes a terra e a água, recursos naturais que servem às suas práticas culturais. Há 40 anos o sapê do Norte se agrava o problema crônico de falta de água seja porque ela secou nos córregos devido aos plantios de eucalipto, seja porque está envenenada por agrotóxicos provenientes do agronegócio. Assim, enquanto o agronegócio irriga suas plantações com incentivos federais muitas famílias quilombolas passam semanas sem uma gota de água para beber ou fazer a higiene das crianças.




O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não consegue resolver o problema crônico de falta de água nas comunidades quilombolas de São Mateus e Conceição da Barra porque se concentra em ações paliativas. A Funasa não está priorizando a água nos territórios quilombolas, o que agrava a situação das famílias no local levando-as a abandonar os locais onde nasceram. A pouca água que resta nos córregos das comunidades é usada para molhar o chão onde passam os caminhões de eucalipto. [foto]
Embora existam mais de 500 famílias quilombolas que estão em processo de titulação, não há coordenação dos recursos para atender as necessidades reais das comunidades como indica o PAC. “Por mais de dois anos o quilombo de São Domingos esperou os banheiros pré-fabricados, mas o projeto não previu que não teríamos água.” Lenilda Alacrino Maria, moradora de São Domingos, também disse que “mais de 100 famílias só tem acesso a água quando os carros pipas das empresas Plantar e DISA passam na comunidade. Antes do eucalipto a água aparecia nos poços com até dez metros. Hoje tem poço com 23 metros que não tem sinal de água. A água do carro pipa não é boa para beber pois vem quente e amarelada.”
Lenilda falou ainda que as famílias que tem filhos pequenos estão se mudando para a cidade porque não conseguem ao menos beber água. Como se vê os quilombolas estão longe de acessar os recursos do PAC, seja por ineficiência dos órgãos responsáveis que impõem “pacotes” prontos, ou porque a política invisível mas eficaz de limpeza étnica no Sapê do Norte persiste nas instituições do governo.

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