22 dezembro 2011

Um mundo dividido


(a propósito e Ferreira Gullar em http://avaranda.blogspot.com/2011/12/preconceito-cultural-ferreira-gullar.html?showComment=1324567418375)

Cultura e poder sempre andaram de mãos dadas. Ferreira Gular, o poeta de tantas críticas à Ditadura Militar, que o diga. Ele escrevia tomando um ponto de vista substantivo, que fazia sua obra ser admirada por seu público. Não se aplicava um substantivo à sua obra. Ela não é preta nem branca. Ela era “suja”. Ela era apenas poesia. A boa poesia da gente burguesa, aquecida no inverno e refrescada no verão.  Que fala sussurrando seus sorrisos complacentes, que alimentam a si mesmos nos periódicos de amigos. Sentada confortavelmente em suas poltronas fundas e recebendo prêmios de colegas “embora o pão seja caro e a liberdade pequena”. Nós, que não somos os seus “morenos”, que não fazemos só o seu samba e o seu carnaval, que não somos a “grande contribuição à este país”, como se isso fosse uma lápide onde se depositam florem anualmente. Nós não falamos uma língua que se vê detida em uma loja de bolsas na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, esperando o por do sol e a musa. Paisagem idílica onde cruzam marmitas frias e lenços amarrados à cabeça em silêncio silenciadas. Cultura e poder sempre andaram de mãos dadas. Mão esquerda com mão esquerda. Mão branca com mão branca. Nossa ditadura foi diferente. Vocês querem saber? Ela perdura até hoje. Não é sociedade brasileira que morre na mão do estado. São os jovens pretos. Não é natural que eu me levante contra estas letras arrumadas ao acaso, que dizem que não dizem o que dizem. Eu busco exumar os substantivos que os senhores resumiram: cultura brasileira, riqueza da nação, distraídos das vozes do outro lado da rua, do saguão, da portaria, do catre noturno de suas insônias. Não dividam o mundo já dividido, que nossa palavra quer unir, mas não antes de encará-la de frente, nos olhos e com todas as palavras. Não estamos destituídos de fundamentos. Nossos fundamentos são novos e velhos. Essencialmente, eles não são os seus fundamentos. Sem os eufemismos do seu universalismo, estamos os abandonando, saindo do raio de seu desejo de controle ancestral, sua segunda pele que é dissuadir o desejo alheio. Nós já nos reconhecemos, temos nossas vitórias e sabemos quem nos diz não, dizendo que é tolice ou má fé.

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